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GALERIA AKTUELL - RIO DE JANEIRO - 1982

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Gordilho - Energia e o poliester luminoso

"e como não há visão sem luz, a análise da imagem, que é sempre luminosa, torna-se a análise da luz, criadora do movimento; movimento e luz são sempre componentes essenciais da imagem." Palavras de Argan, o crítico italiano, quando se discutia a obra do israelita Agan, cinético, já procurava superar o próprio conceito de imagem, nas bienais venezianas e paulistas. Davam-se ênfase e decisiva importância ao fenômeno "luz" no fenômeno "arte". E o genérico, tão acentuado por Palatinik, o cearense que chegava de estudos em Israel em 1949, no Rio mesmo, ao invéz de facilitar, continuava a dificultar a análise da relação entre duas linhas, de forma e de força. E continua mesmo depois pela presença de vida e energia consciente do arquiteto e escultor Edgard Gordilho. Antes de tudo, com sua juventude, Gordilho propõe: "retrouver le sens de la vie...". Uma encruzilhada de caminhos embaraçosos por representar sempre restrições muito amplas. Mais diretamente, no caso, Gordilho tenta firmar um conceito sobre o lugar da luz. E como tal, aponta ambiciosamente para um dos setores mais ricos da visualidade. Arquiteto e escultor, Gordilho foi indiretamente prejudicado em seu jovem impulso experimental pelo escriba, quando deixou de incluir seu trabalho na mostra dos 50 Anos de Escultura no Espaço Urbano, solicitação de Roberto Marinho e Lígia Souza Mello, meus aliados e às vezes cumplices no vasto império global, cujo criador proprietário curte a escultura, e o escriba, pessoalmente,curte o escultor Roberto Marinho, desde que em 1952 doou um esplêndido bronze de Brancusi para o Museu de Arte Moderna; e Ligia Souza Mello acionava a revista "Rio" com Sanção Castelo Branco e Pongetti. Solicitaram que não incluisse na mostra, ao ar livre, materiais perecíveis ou frágeis, como madeira, plásticos, vidors, etc. Embora já familiarizado com arquitetos e até "artistas" com resinas polimerizadas desde 1958, o poliester em terceira dimensão era mais conhecido do grande e discreto homem de comunicação. Como se sabe, o violon d'ingres de Roberto Marinho é a escultura. Em sua casa, além de bronzes, já vira poliester trabalhado por ele em um "objeto não identificável", tendendo mais para o design do que para um vitreaux sem cor mas com luminosidade. Assim, nesta mostra tornou-se um autoestímulo colaborar com Gordilho, menos por qualquer sentimento tolo de reparação e mais pelo interesse com que sempre vejo a renovação da energia e da vida pelas gloriosas retomadas e continuidade dos mais jovens. Gordilho é otimista, tenaz, vai ao fundo do poço para emergir com energias mais purificadas, consciente, com a rainha das faculdades, a imaginação. Nada há nele de "obsessão" como afirmam alguns. Em criação arquitetônica, design ou estrudo de luminosidade, obsessão é algo muito próximo do fofolle e do entêté que os críticos veem aos milhares. Mas não é o caso, permito-me assegurar sem necessidade de um ponto de exclamação. Artistas jovens dotados de energis psíquica ou de alma ( essência, sopro, psiquê, pneuma ) não se confundem com automáticos e materialistas que se nutrem de mimetismo ou de "ingredientes". Procuram separar no limite possível a sua intensidade ou qualidade, sem por isso se engajar no equívoco de materiais ou conceitos espaciais ou estruturais e a femenologia de antanho... Ao contrário, Gordilho parece ver tudo isso com extrema reserva, certo apenas que o poliester é um meio, um veículo para os seus vôos em busca do lugar da luz para emitir sua sensual mensagem poética. Seria fácil obter efeitos com os mármores caros e cemiteriais - ou o moullage pelas fundições em que o escultor é apenas um inseminador, pois até o polimento é de outros. O tactil de Gordilho sugere a massagem retínica da insaciável Sra. Suzane Langer e suas teorias tocadas de suspeito voyerismo, muito respeitável; aliás alguns colegas nada mais são do que nervosos voyers, sem tato e sem reflexos de retina. O tato, que recupera um valor dos sentidos, há muito anestesiado, em Gordilho e suas imagens luminosas, de sensual passaria com certas dúvidas de legitimidade, ao erótico. Não terá sido essa a intenção. Sua luminosidade la dedans sugere mais uma mística irradiação. Há qualquer coisa de romântico nesse material tão gélido em Gordilho - ou de um restaurador do "esteticismo"de l'art pour l'art que até hoje Lúcio Costa curte e justifica com propriedade de palavras e logísticas tão desalentadoras para a profissão da crítica. Fernando Pessoa, em seu verso em inglês matou a charada - I love my love for thee more than I love thee e o poeta concretista José Lino Grunwald afirma ser "mais que a ti, amo meu amor por ti". Um pouco de preciosismo, mas quem não tem sua gota de precieux neste fabuloso país de "modernidades, como diz Gilberto Freire?

Jayme Maurício

apresentação de catálogo / junho de 1982