O
círculo de poliester como expressão do ser
Nas esculturas de Edgard Gordilho, sensualidade em resina poliester.
O ser é redondo.
Nem anatomia, nem geografia, nem um edepto retardatário das teses de Cristóvão
Colombo. Trabalhando com resinas de poliester, moldando através de movimentos,
torções, cortes, Edgard Gordilho defende essa idéia em 23 esculturas que vai expor
a partir de hoje, no Paço das Artes. O poliester é um material contemporâneo derivado
do petróleo que o artista descobriu há 20 anos quando consertava uma prancha de
surf, em plena adolescência. Depois desse primeiro contato o material industrial
continuou a atrair a sua curiosidade tanto pela extrema maleabilidade quanto pela
possibilidade de transparência. Já são dez anos de exposições individuais, em
que Gordilho explorou unicamente o poliester tridimensional transparente. Foram
mostras no Rio, São Paulo, Paris, Copenhagem e Lisboa e alguns prêmios em salões
de arte e várias coletivas. O círculo porém é recente em suas esculturas. Tudo
começou no concretismo retilíneo passando por uma figuração erótica surrealista.
"Agora ando brincando com o círculo". Em suas criações, que estarão no Paço das
Artes até 17 de setembro, negando a perfeição da figura as estruturas são raspadas
e rugadas pondo à mostra a estrutura do círculo e a nidez da resina de poliester.
Acreditando que a superfície polida é mais agradável visualmente enquanto a rudimentar
é mais agressiva, o artista de 38 anos, carioca, acredita estar realizando, ao
romper com as formas, imagens emocionais e sensuais ao mesmo tempo em que questiona
o ser e o ser do próprio material, resinas sintéticas transparentes e arredondadas.
Para Edgar Gordilho, o maior estímulo do ser humano é o desconhecido e, a partir
daí, ele explora a sua descoberta direcionado para novas fronteiras. Como ele
mesmo explica, segundo estudos científicos, o poliester provavelmente vai existir
mais algumas décadas. Para o artista isso já é o suficiente. "Se considerarmos
a civilização humana como um todo, o pequeno espaço de tempo da existência do
poliester equivale a uma faísca dentro de uma grande fogueira".
Caderno
2 / Estréia Visuais
O Estado
de São Paulo - 03/09/86
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